Indicação de Implante Coclear em Crianças
Se a criança nasceu surda ou adquiriu a perda auditiva precocemente, antes do desenvolvimento da fala, consideramos sua surdez como pré-lingual.
Se a criança perdeu a audição depois de ter desenvolvido fala, linguagem oral, classificamos sua surdez como pós-língual.
Crianças com perda auditiva pré-lingual
O implante coclear está indicado nas perda auditivas neurossensoriais bilaterais (ver tipos de perda) severa e/ou profunda.
São crianças que, em geral, falham no teste da orelhinha e devem ser encaminhadas para o otorrinolaringologista para diagnóstico. A perda auditiva severa / profunda é uma afecção comum. Ocorre em 1 a 2 recém nascidos para cada mil. Em recém nascidos considerados de risco (história familiar de perda auditiva congênita, internação prolongada em CTI, intubação, uso de antibióticos que afetam a audição, portadores de síndromes que cursam com perda auditiva) essa incidência sobe para até 4 a 6 por cento.
A surdez na infância é mais comum que todas as outras doenças pesquisadas no teste do pezinho. Por isso, atualmente, o teste da orelhinha (triagem para perdas auditivas) é obrigatório e deve ser realizado em toda criança com até um mês de vida.
A principal causa e perda auditiva significativa na infância é a de origem genética. Em nosso meio, as causas infecciosas, principalmente meningite, têm grande importância. Observamos um número cada vez maior de crianças que apresentam múltiplos fatores que podem levar a surdez como prematuridade, internação prolongada em CTI, história de infecção e uso de antibióticos que lesam o ouvido interno.
Uma vez diagnosticada a perda auditiva, a intervenção deve ser precoce. Na presença de surdez sensorial de grau severo a profundo, o uso de aparelhos auditivos pode não ser suficiente para permitir um desenvolvimento da linguagem adequada. Nestes casos, após comprovação por exames e avaliação fonoaudiológica, o implante coclear é o tratamento indicado. Crianças com surdez severa ou profunda pré-lingual (ou seja, antes da aquisição da fala) devem ser implantadas idealmente até os dois anos de idade.
As crianças devem passar previamente por habilitação com aparelho de amplificação sonora individual, ou seja, testar se terá resposta com aparelho auditivo por 3 a 6 meses. O ideal é que essas crianças tenham diagnóstico até 6 meses e sejam operadas por volta de 1 ano de idade. A idade da cirurgia na criança com surdez pré-lingual é um fator muito importante. Se durante os primeiros anos de vida ocorrer uma privação do estímulo auditivo, o cérebro se reorganiza de tal forma que não mais responderá aos estímulos sonoros de maneira adequada. Ou seja, em crianças mais velhas ou adultos que nunca escutaram, não desenvolveram a fala, não tem leitura orofacial, o implante coclear oferece estímulos ao cérebro que ele não reconhece como sons.
A implantação em uma idade precoce (12 a 18 meses) oferece às crianças os melhores resultados. Implante bilateral oferece uma localização melhor do som, bem como uma capacidade superior de compreender a fala em ambientes ruidosos do que implante coclear unilateral. Por isso é muito importante o diagnóstico precoce e a intervenção no momento correto. Assim, a partir de 1 ano, quanto mais cedo a criança for implantada, melhor e mais rápida será a sua resposta. Crianças implantadas na idade correta e com estímulo (familiar e fonoaudiológico) adequado, podem apresentar desenvolvimento normal, semelhante ao de uma criança com audição normal.
Em crianças mais velhas e adolescentes com surdez pós lingual (que já desenvolveram fala) está indicado o implante coclear nos casos de surdez severa /profunda bilateral, com baixa compreensão de fala.
Uma vez que a indicação está bem estabelecida, o procedimento deve ser realizado o mais rápido possível. Quanto menor for o tempo de privação auditiva, melhor será o resultado. A privação auditiva prolongada afeta organização do córtex cerebral, o que influencia o resultado de maneira significativa.